Maioria dos deputados federais na mira de escândalos tenta reeleição
Envolvidos em farra aérea e mau uso de verba querem mais quatro anos na Câmara
Gabriel Mestieri, do R7
Verba de mandato usada em suas próprias empresas, farra das passagens aéreas, pagamento de restaurantes caros com dinheiro da Câmara, empregadas domésticas como funcionárias dos gabinetes. Foram muitos, nos últimos dois anos, os escândalos nos quais se envolveu parte dos deputados federais. A maioria dos que tiveram seus nomes citados em irregularidades, entretanto, considera que os fatos já foram esclarecidos e vai tentar a reeleição.
Um levantamento realizado pelo R7 com 23 deputados federais envolvidos em supostas irregularidades mostra que 20 deles vão tentar outro mandato para ficar mais quatro anos na Câmara. Dos três restantes, dois devem se candidatar a cargos no Executivo e um não atendeu a reportagem.
É o caso de Aníbal Gomes (PMDB-CE), Vadão Gomes (PP-SP) e Nazareno Fonteles (PT-PI). Em abril de 2009, foi revelado que os gabinetes desses deputados estavam negociando passagens da cota área dos deputados com agências de viagem. Os três não veem as acusações como impedimento e vão tentar a reeleição. A assessoria de Vadão afirmou apenas que o caso já foi esclarecido e a de Fonteles disse que ele não tinha conhecimento de que uma funcionária de seu gabinete participava do esquema, mas assim que soube a exonerou. Procurada, a assessoria de Aníbal não comentou o caso.
Outro citado na farra das passagens que vai tentar ficar mais quatro anos na Câmara é Eugênio Rabelo (PP-CE). Além do esquema com as agências, o deputado, que é ex-presidente do Ceará Sporting Club, pagou com dinheiro da Câmara 77 passagens para cartolas e jogadores. Procurada, sua assessoria confirmou que ele tentará a reeleição, mas não comentou as denúncias. Já Paulo Roberto (PTB-RS), também citado, não será candidato. Fábio Faria (PMN-RN), que ficou famoso por pagar passagens para a modelo Adriane Galisteu – sua então namorada – com dinheiro da Câmara, também vai ser candidato à reeleição. Sua assessoria não comentou a denúncia.
Verba indenizatória
Suspeitos de usarem notas fiscais de suas empresas para justificar os gastos com a verba do mandato, Dilceu Sperafico (PP-PR), Antônio Andrade (PMDB-MG), Marcelo Teixeira (PR-CE) e Nice Lobão (DEM-MA) também não veem prejuízo eleitoral em suas ações – todos tentarão mais quatro anos de Câmara. A assessoria de Sperafico, que apresentou nota de um hotel seu para comprovar gastos, disse que o caso foi resolvido, assim como a de Nice, que afirmou que o dinheiro era usado para o aluguel do escritório da deputada no Maranhão. As assessorias de Andrade e Teixerira confirmaram que eles tentarão se reeleger, mas não comentaram as acusações.
Valdir Colatto (PMDB-SC), João Carlos Bacelar (PR-BA), Jofran Frejat (PR-DF), Augusto Farias (PTB-AL) e Pedro Novais (PMDB), Takayama (PSC-PR) e José Mentor (PT-SP) também usaram a verba indenizatória de maneira, no mínimo, estranha, com restaurantes e lojas de doces. Mas eles não veem problemas nisso. Ao R7, Bacelar, candidato à reeleição e que usou R$ 500 da verba de mandato em uma loja especializada em vinhos, afirmou que a denúncia “já foi esclarecida há muito tempo”.
- Já expliquei, não foi vinho, foi uma festa para prefeitos, funcionários e colaboradores que eu faço todo ano. Já foi esclarecido, reesclarecido. Vamos fazer um debate positivo, isso já é matéria vencida.
Colatto, que também quer se reeleger, explica de maneira semelhante os gastos de R$ 1.200 em uma loja de chocolates.
- Isso é uma coisa normal, foi uma compra de produtos alimentícios. Eu não fiz nada que não fosse o correto, alimento é alimento, alimento pode comprar.
A verba indenizatória é disponibilizada aos políticos para que usem com despesas diretamente relacionadas com o mandato, como pagar deslocamentos para viagens oficiais e contas de telefones de assessores. Os deputados federais recebem salário de R$ 16.512,09.
A assessoria de Frejat, que gastou R$ 144 na Scoth House e R$ 600 na Casa de Biscoitos Mineiros, disse que talvez ele se candidate a vice-governador e que a denúncia já está esclarecida. Os gabinetes de Novais, que gastou R$ 655 no restaurante Gero e R$ 236 no Wine Ipanema, de Takayama, que fez uma festa de fim de ano de R$ 1.400 paga pela Câmara e de Mentor, que gastou R$ 1.100 numa churrascaria, não quiseram comentar as denúncias. A reportagem não conseguiu contatar ninguém que pudesse falar em nome de Farias, que gastou R$ 842 em um restaurante peruano.
Outros gastos de mandato duvidosos são os que envolveram empresas que doaram para as campanhas dos deputados. É o caso de Luiz Bittencourt (PMDB-GO), Filipe Pereira (PSC-RJ) e Deley (PSC-RJ).
Bittencourt gastou R$ 32,4 mil na Online Informática em 2008. A empresa doou R$ 100 mil para a campanha do deputado em 2006. A assessoria dele afirmou que ele vai se candidatar à reeleição, mas não comentou as denúncias. Pereira, que gastou R$ 23,8 mil na empresa de serviços Dinâmica, doadora de sua campanha, disse que vai ser candidato e que já se defendeu das denúncias no passado. Deley, que recebeu R$ 13 mil da Reprográfica Barrense, gastou R$ 32,4 mil na mesma empresa. A assessoria dele diz que ele vai se candidatar, mas não quis comentar as denúncias.
Outro uso de dinheiro público irregular feito pelos deputados foi a contratação de empregadas pagas como funcionárias de gabinete. Alberto Fraga (DEM-DF), Arnaldo Jardim (PPS-SP) e José Paulo Tóffano (PV-SP) contrataram domésticas com dinheiro da Câmara. O gabinete de Fraga diz que não será candidato à reeleição, devendo tentar o governo do Distrito Federal. A assessoria de Jardim disse que ele será candidato à reeleição e que a questão da empregada já foi resolvida, e o dinheiro, devolvido. O gabinete de Tóffano afirmou que ele será candidato à reeleição, mas não comentou as denúncias.